via Agência Amazônia
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Crianças da Amazônia são mais vulneráveis às mordidas de morcegos e, dessa forma, estão mais expostas aos casos de raiva humana. O alerta é do biólogo Wilson Uieda, responsável pela pesquisa “Distribuição dos morcegos hematófagos na região Amazônica e o papel do morcego hematófago Desmodus rotundus na transmissão da raiva”. Uieda atua no Departamento de Zoologia da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho.
Segundo Uieda, são vários os fatores que contribuem para as crianças serem o alvo preferido dos morcegos. Casas de palafitas (de madeira e de barro cobertas de palhas), redes sem proteção adequada e barcos inadequados para o transporte noturno deixam crianças e adultos suscetíveis aos ataques noturnos dos morcegos.
De acordo com o pesquisador, as crianças estão mais expostas em decorrência das brincadeiras e por terem um sono mais pesado. Devido a essas condições, explica Wilson Uieda, “elas [crianças] não são picadas somente uma vez, mas dezenas de vezes”. Os dados foram divulgados durante o Simpósio sobre a Raiva Humana na Amazônia, parte da programação do XXVIII Congresso Brasileiro de Zoologia, em Belém (PA).
Os casos no Pará
Alberto Begot, médico veterinário da Secretaria de Saúde do Pará, explica que as agressões de morcegos em crianças também são maioria no Pará. Dados parciais mostram que as agressões por morcegos em humanos teve uma diminuição a partir de 2005. “É importante lembrar que em 2003 não houve nenhum caso de raiva registrado no Pará”, afirma Begot. Em 2005 foram 8.601 casos registrados. Já em 2009 foram 830. Essa quantidade de casos se baseia no número de doses de vacinas aplicadas pelo Estado.
Outro dado importante, apontado por Begot, são os municípios do Pará com maior registro de agressões por quirópteros, espécie de morcegos hematófagos, presentes nas comunidades ribeirinhas. A maior incidência foi registrada em Portel, no Marajó, com 3.190 casos desde 2004. O município de Augusto Corrêa, no nordeste paraense, contabilizou 2.711 casos.
A raiva humana no Brasil
“De 1980 até 2009, 79% dos casos de raiva humana no Brasil foram ocasionados por morcegos”, lembra Marcelo Wada, responsável pelo Grupo técnico da raiva, vinculado a Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde, em Brasília (DF) ao apresentar “Agressões e surtos recentes de raiva humana transmitida por morcegos hematófagos”, no Congresso de Zoologia.
Nos anos 80 e 90 a raiva humana sempre esteve ligada aos cães. “Devido ao elevado número de casos humanos, onde o agressor era canino, o foco das campanhas era todo direcionado aos cães”. Porém, nos últimos dez anos, o número de agressões ocasionadas por cães se igualou ao número de agressões por morcegos. “Apesar de ter aumentado os casos de raiva humana por morcegos, a partir de 2007 registramos menos de dez casos por ano, mostrando um avanço muito grande do Programa Nacional de Combate a Raiva.” relata Marcelo Wada.
Wada lembra quais são os fatores de risco que levou o Brasil a ter surtos de raiva, transmitida por morcegos, em 2004 e 2005. “As mordidas por morcegos hematófagos tem como fatores determinantes os desmatamentos, as queimadas, as condições de moradias dessas comunidades ribeirinhas onde as casas fazem usos de jiraus e há falta de luz, além do uso de redes sem mosqueteiros”.
O que é a raiva humana
O vírus rábico pertence à ordem Mononegavirales, família Rhabdoviridae e gênero Lyssavirus. A transmissão da raiva se dá pela penetração do vírus contido na saliva do animal infectado, principalmente pela mordedura e, mais raramente, pela arranhadura e lambedura de mucosas. O vírus penetra no organismo, multiplica-se no ponto de inoculação, atinge o sistema nervoso periférico e, posteriormente, o sistema nervoso central. A partir daí, dissemina-se para vários órgãos e glândulas salivares, onde também se replica e é eliminado pela saliva das pessoas ou animais enfermos.
Todos os mamíferos são suscetíveis à infecção pelo vírus da raiva. A imunidade é conferida por meio de vacinação, acompanhada de soro. Dessa maneira, pessoas que se expuseram a animais suspeitos de raiva devem ser vacinados, assim como indivíduos que, em função de suas profissões, se mantêm constantemente expostos.
(*) Com reportagem de Silvia Leão, da Agência Museu Goeldi.
via Agência Amazônia
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