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Em um cantinho da Amazônia brasileira, próximo à divisa com a Colômbia, 19 línguas indígenas dividem espaço com o português. A região, conhecida como Cabeça do Cachorro, fica no noroeste do Amazonas e tem 23 povos diferentes.

São Gabriel da Cachoeira, a maior cidade da região, tem quatro línguas oficiais. É o único município quadrilíngue do Brasil. Entre os idiomas do lugar está o nhengatu. Baseado na língua dos tupinambás, foi inventado pelos jesuítas do século XVIII  para evangelizar os índios. Os outros três idiomas são tukano, baniwa e o português – a língua usada para se comunicar com forasteiros.

Torre de babel

O índio baniwa Luís da Silva é um exemplo da “Torre de Babel” que se vive na região. Ele fala nove línguas: baniwa, tukano, wanano, kuebo, kuripaco, werekena, nhengatu, espanhol e português.

O índio tukano Laureano Maia, que aprendeu português com os padres, achou que podia esquecer o idioma de sua tribo. “Pôxa, e agora? Como que a gente vai ficar sem nada, sem cultura, sem mito, sem história?”.

Maia começou a recuperar a história de seu povo quando conheceu Judson, um adolescente de 16 anos cheio de perguntas. “Qual a minha etnia? Onde que eu pertenço? De onde que nós surgimos?” Para responder a todas essas dúvidas, eles conseguiram reaver o mito tukano da criação do mundo e, em um livro, salvaram ao mesmo tempo a língua e a cultura de seu povo.


Mito tukano

Segundo o mito tukano, no começo não existia água, não existiam árvores, não existia terra. Onde hoje é a Baía de Guanabara, Deus criou uma cobra-canoa. No ventre dela, nasceu a humanidade, com vários grupos étnicos. Eles foram subindo pela costa brasileira de sul para norte, percorrendo todo o litoral. Chegando perto da Ilha de Marajó, entraram no Rio Amazonas.

Navegaram rio acima até chegar no Rio Uaupés, na cachoeira de Ipanoré. O índio, o negro, o branco teriam surgido dessa cachoeira, e por isso ela seria tão grande. Cada buraco da cachoeira representa o surgimento de uma etnia.

O livro, todo escrito em tukano, foi impresso em uma gráfica de São Paulo. “Enquanto o índio estiver vivo, a cultura não vai acabar. Porque vai estar dentro de nós mesmos”, declara Judson.

via Globo Amazônia

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