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O nome da hidrelétrica é Marabá, mas é São João do Araguaia, às margens do Tocantins, que teme desaparecer sob as águas. Nascido como povoado em 1779, o hoje município de 13 mil habitantes faz parte da lista dos 12 que serão afetados pela futura UHE Marabá — cinco no Pará, cinco no Tocantins e dois no Maranhão. O que a população sabe de mais concreto é que a Prefeitura começou a providenciar escrituras dos imóveis, já que a maioria não tem título definitivo, para facilitar o processo de indenização.
— A gente sabe muito pouco, porque quem vem aqui são apenas técnicos de empresas terceirizadas. Sempre tivemos dúvidas sobre a construção, por causa da questão ambiental. Mas, de cinco anos para cá, disseram que vão construir mesmo. São dezenas e dezenas de comunidades ribeirinhas e 18 ilhas naturais que devem desaparecer — diz Emiliano Soares de Souza, secretário de Administração da Prefeitura.
Com os estudos de viabilidade técnica, econômica e socioambiental em andamento, nada é certeza em relação à cidade. A única coisa certa é que a UHE Marabá está prevista no Plano Decenal de Expansão da Energia 2011-2020 (PDE) para entrar em operação em novembro de 2019, com investimento de R$ 4,2 bilhões a partir de 2014.
70% dos imóveis devem ser atingidos
A capacidade de 2.160 MW coloca a UHE de Marabá em terceiro lugar entre as grandes novas hidrelétricas a serem instaladas na Amazônia. Sua área de alagamento prevista é de 1.014 km². Ou seja, um reservatório bem maior do que o da UHE de São Luiz do Tapajós, a próxima a ser licitada, que deve gerar quase o triplo (6.133 MW) e alagar 722,25 km². A estimativa é que pelo menos 10 mil famílias (ou 40 mil pessoas) sejam afetadas, além da reserva indígena Mãe Maria, no Pará.
— A gente não sabe a proporção do alagamento. Tem uma ideia. Aqui no centro, na sede do município, são 1.100 a 1.200 imóveis e 70% devem ser atingidos — diz Souza.
O prédio da prefeitura de São João do Araguaia deve ser o primeiro a desaparecer sob as águas. A construção antiga, na pracinha central da cidade, é colada ao leito do Tocantins. A poucos quilômetros do centro de São João do Araguaia fica também o Bico do Papagaio, onde os rios Araguaia e Tocantins se encontram. O lugar, uma espécie de refúgio ecológico, é o marco da divisa entre Tocantins, Pará e Maranhão.
Maria Neri Gonçalves Silva, 78 anos, mãe de 16 filhos, dez que “vingaram”, diz que já foi visitada pelo “pessoal da Eletrobras”.
— Pegaram a documentação do terreno para cadastrar. Disseram que só vão indenizar casa de tijolo. Quem tem casa de madeira e barro vai receber só um agrado — diz ela. — Se vier a água, o jeito é sair. Senão, morre afogada.
O filho Messias relata que os técnicos disseram que voltariam para medir o lote, mas ainda não voltaram. Para ele, se a usina vier, eles terão de sair de qualquer forma, mesmo que a casa, a 400 metros do rio, fique fora das águas.
— A usina se chama Marabá, mas acaba mesmo é com São João. Mas eu acredito que Deus não vai fazer isso com a gente. São João Batista, Nossa Senhora de Nazaré. A gente tem que ter fé — diz Amujaci Oliveira dos Santos, 72 anos.
Na avaliação do secretário de Administração, a barragem só vai ser instalada no limite com Marabá para que os royalties do empreendimento sejam divididos.
— São João é que vai ser atingido, mas Marabá terá direito aos royalties e benefícios.
Aos 84 anos, Raimundo Bispo dos Santos, 50 anos de casado com Amujaci sem nunca ter arredado o pé de São João do Araguaia, conta que já fez de tudo por ali.
— Primeiro era o castanhal, depois tudo passou a ter dono e acabou. A gente era quase escravo. Depois, veio o diamante. A gente mergulhava de “folêgo”, escavava o fundo do rio para tirar as pedras e achava! Peguei muito diamante para o Osvaldo Mutran — relembra Santos, referindo-se ao ex-prefeito de Marabá e ex-deputado estadual, mais conhecido como Vavá Mutran.
Além de São João do Araguaia, comunidades ribeirinhas serão atingidas em São Pedro da Água Branca (MA), Vila Nova dos Martírios (MA) Ananas (TO), Araguatins (TO), Buriti do Tocantins (TO), Esperantina (TO), São Sebastião do Tocantins (TO), Bom Jesus do Tocantins (PA), Brejo Grande do Araguaia (PA) e Palestina do Pará (PA). Segundo o prefeito de Marabá, João Salame, o impacto nas comunidades do município será muito pequeno. A barragem deverá ficar a montante da ponte rodoferroviária de Marabá, uma espécie de cartão postal da cidade.
fonte: O Globo
— A gente sabe muito pouco, porque quem vem aqui são apenas técnicos de empresas terceirizadas. Sempre tivemos dúvidas sobre a construção, por causa da questão ambiental. Mas, de cinco anos para cá, disseram que vão construir mesmo. São dezenas e dezenas de comunidades ribeirinhas e 18 ilhas naturais que devem desaparecer — diz Emiliano Soares de Souza, secretário de Administração da Prefeitura.
Com os estudos de viabilidade técnica, econômica e socioambiental em andamento, nada é certeza em relação à cidade. A única coisa certa é que a UHE Marabá está prevista no Plano Decenal de Expansão da Energia 2011-2020 (PDE) para entrar em operação em novembro de 2019, com investimento de R$ 4,2 bilhões a partir de 2014.
70% dos imóveis devem ser atingidos
A capacidade de 2.160 MW coloca a UHE de Marabá em terceiro lugar entre as grandes novas hidrelétricas a serem instaladas na Amazônia. Sua área de alagamento prevista é de 1.014 km². Ou seja, um reservatório bem maior do que o da UHE de São Luiz do Tapajós, a próxima a ser licitada, que deve gerar quase o triplo (6.133 MW) e alagar 722,25 km². A estimativa é que pelo menos 10 mil famílias (ou 40 mil pessoas) sejam afetadas, além da reserva indígena Mãe Maria, no Pará.
— A gente não sabe a proporção do alagamento. Tem uma ideia. Aqui no centro, na sede do município, são 1.100 a 1.200 imóveis e 70% devem ser atingidos — diz Souza.
O prédio da prefeitura de São João do Araguaia deve ser o primeiro a desaparecer sob as águas. A construção antiga, na pracinha central da cidade, é colada ao leito do Tocantins. A poucos quilômetros do centro de São João do Araguaia fica também o Bico do Papagaio, onde os rios Araguaia e Tocantins se encontram. O lugar, uma espécie de refúgio ecológico, é o marco da divisa entre Tocantins, Pará e Maranhão.
Maria Neri Gonçalves Silva, 78 anos, mãe de 16 filhos, dez que “vingaram”, diz que já foi visitada pelo “pessoal da Eletrobras”.
— Pegaram a documentação do terreno para cadastrar. Disseram que só vão indenizar casa de tijolo. Quem tem casa de madeira e barro vai receber só um agrado — diz ela. — Se vier a água, o jeito é sair. Senão, morre afogada.
O filho Messias relata que os técnicos disseram que voltariam para medir o lote, mas ainda não voltaram. Para ele, se a usina vier, eles terão de sair de qualquer forma, mesmo que a casa, a 400 metros do rio, fique fora das águas.
— A usina se chama Marabá, mas acaba mesmo é com São João. Mas eu acredito que Deus não vai fazer isso com a gente. São João Batista, Nossa Senhora de Nazaré. A gente tem que ter fé — diz Amujaci Oliveira dos Santos, 72 anos.
Na avaliação do secretário de Administração, a barragem só vai ser instalada no limite com Marabá para que os royalties do empreendimento sejam divididos.
— São João é que vai ser atingido, mas Marabá terá direito aos royalties e benefícios.
Aos 84 anos, Raimundo Bispo dos Santos, 50 anos de casado com Amujaci sem nunca ter arredado o pé de São João do Araguaia, conta que já fez de tudo por ali.
— Primeiro era o castanhal, depois tudo passou a ter dono e acabou. A gente era quase escravo. Depois, veio o diamante. A gente mergulhava de “folêgo”, escavava o fundo do rio para tirar as pedras e achava! Peguei muito diamante para o Osvaldo Mutran — relembra Santos, referindo-se ao ex-prefeito de Marabá e ex-deputado estadual, mais conhecido como Vavá Mutran.
Além de São João do Araguaia, comunidades ribeirinhas serão atingidas em São Pedro da Água Branca (MA), Vila Nova dos Martírios (MA) Ananas (TO), Araguatins (TO), Buriti do Tocantins (TO), Esperantina (TO), São Sebastião do Tocantins (TO), Bom Jesus do Tocantins (PA), Brejo Grande do Araguaia (PA) e Palestina do Pará (PA). Segundo o prefeito de Marabá, João Salame, o impacto nas comunidades do município será muito pequeno. A barragem deverá ficar a montante da ponte rodoferroviária de Marabá, uma espécie de cartão postal da cidade.
fonte: O Globo
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por AMC
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08:45
Etiquetas:
Comunidades Ribeirinhas,
Hidrelétricas,
Meio Ambiente,
Ocupação da Amazónia,
Polémicas e Conflitos,
Recursos Naturais
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