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O alongamento peniano é uma tradição entre os índios da família lingüística tupi-kawahib. Originalmente, servia para eliminar eventuais divergências quanto a identificação visual dos indivíduos na floresta. Os kayapó fazem crescer os lábios inferiores, os erikbatsa aumentam o lóbulo das orelhas. São os “beiços-de-pau” e os “orelhas-de-pau” – apelidos que receberam de outros índios e dos brancos. Entre os piripkura, a identificação visual é o pênis avantajado sob um grande protetor feito de palha. Daí as piadas elogiosas de “tribo do pau grande” ou “caralhudos”.
São abundantes e detalhistas os laudos etnográficos, microfilmes e Relatórios do Serviço de Proteção ao Índio (SPI) e da Funai, desde o início do século, nos trabalhos dos etnólogos Curt Nimuendaju e Claude Lévi-Strauss, os textos de Roquette-Pinto e do marechal Cândido Rondon, que registram e reiteram como hábito entre os diversos grupos étnicos da família tupi kawahib utilizar protetor peniano com arestas de tamanho avantajado, o que causava impacto nos primeiros contatos e comentários por serem considerados “bem-dotados”. Mas não é só o “protetor” que é avantajado.
Que vida do caralho
Não se sabe a fórmula que usam – um conhecimento tradicional protegido pela legislação internacional que, no futuro, poderá render bom dinheiro para esses índios. Mas o segredo pode estar na poderosa formiga “tocandira”, comum na Amazônia. Conta-se em Rondônia que, desde pequenos, os curumins passam por longos e exaustivos rituais de iniciação. Durante o processo, não se sabe com que freqüência ocorre, as formigas são usadas para “picar” o pênis a ser alongado. Esticam o órgão com as mãos e colocam formigas sobre ele. Quando irritada, a tocandira produz um ruído estridente e pica por um aguilhão abdominal ligado a uma glândula de veneno. Pode ser o veneno, de base protéica e que inclui hialuronidase e fosfolipase A, o segredo. Mas ainda não foi provado cientificamente. O que se sabe, pelos relatos orais, é que a picada é muito dolorosa, e faz dilatar os músculos genitais. Repetidas vezes, o órgão ganha tamanho e volume. As pessoas que me contaram, em Rondônia, essa fórmula, me aconselharam a não tentar isso em casa.
Há também uma mistura de ervas que é usadas para massagear o pênis – procedimento terapêutico utilizado no local da picada das formigas. As plantas podem servir como dilatadores do órgão ou apenas para fazer passar a dor. Enquanto esteve com a equipe da Funai no acampamento, logo após o contato, o índio Tucan não se distraiu de cuidar de sua identificação étnica. Segundo relato dos integrantes da Frente de Proteção Etno-Ambiental Madeirinha, “todo dia, à tardinha, ele pegava um pouco de água morna em uma cumbuca, colocava umas folhinhas lá e ficava massageando o pênis, esticando, balançando, tratando”, relata um dos integrantes da equipe. Mesmo se tornando famoso por causa da triste história de massacre do seu povo, Tucan parece não querer deixar de lado a vaidade peniana, marca registrada de seu povo.
Índios Isolados no Brasil
Eles existem como gente invisível, e vivem em fuga a vida na floresta. Se escondem nas sombras, e podem, por exemplo, passar anos em uma caverna praticamente sem sair dela – como aconteceu com uma família de índios ava-canoeiro, a 200 km de Brasília, nos anos 1980. Nas áreas mais remotas da selva amazônica vivem índios que, de forma heróica, se afastam do contato e do convívio com a população que se instalou no Brasil. São os índios isolados – também chamados, pelos antropólogos, de comunidades “autônomas”.
De acordo com Elias Bigio, coordenador Geral de Índios Isolados da Funai, há hoje 71 grupos indígenas vivendo nessa situação. Poucos anos atrás a Funai só tinha o conhecimento de cerca de 40 povos. A maioria desses índios sabe da existência do homem branco e até já tiveram encontros acidentais, mas preferem ficar escondidos. Podem ser aldeias com centenas de integrantes, ou, nos casos mais trágicos, um, dois, três indivíduos, uma família apenas que tenha conseguido sobreviver à carnificina em que se transformou, em fatos reais, a ocupação da Amazônia. Este é o caso dos dois piripkuras contatados em agosto, assim como dos kanoê e akunt’su, em Rondônia, os juma, no Amazonas, os ava-canoeiros, em Goiás e Tocantins, entre alguns outros.
Funai recorre à Procuradoria para proteger área de 2 índios isolados
Funcionários da Funai em Rondônia pediram ao Ministério Público Federal ajuda para obrigar o próprio órgão indigenista a proteger uma área de floresta no noroeste de Mato Grosso onde vivem os dois últimos membros de uma etnia isolada -os Piripkura. Os dois índios perambulam por propriedades nos municípios de Rondolândia e Colniza, e sua sobrevivência é ameaçada pela ação de madeireiros, segundo os indigenistas. A região era o principal foco de atuação do esquema de extração ilegal de madeira investigado em 2005 pela Operação Curupira. Os indigenistas têm pedido à Funai que baixe uma portaria de restrição de uso da área. Esse instrumento visa suspender as atividades de não-índios e é o primeiro passo legal para a realização dos estudos que podem levar à identificação e à demarcação da terra – FSP, 16/9, Brasil, p.A11.
A reportagem acima, publicada na Folha de São Paulo, apesar de não dizê-lo claramente, relata um caso de extermínio de uma população indígena. Assim como ocorreu ao longo de toda a história desse país – e haja visto, ainda ocorre! – a atividade extrativista na Amazônia sempre se deu às custas de muita violência contra os povos da floresta. São muitos os casos conhecidos em que indígenas aparecem em vilarejos ou pequenas cidades em número reduzido, fugindo de matadores de aluguel contratados por fazendeiros.
A reportagem conclui com o seguinte comentário de Inês Hargreaves, antropóloga que trabalha na região de MT e RO:
“a situação é idêntica à de três grupos isolados contatados em Rondônia em 1995: os canoês (quatro pessoas), os akun’tsuns (sete) e o chamado “índio do buraco”, provavelmente o último de grupo ainda desconhecido.”
Notícia publicada na Folha de São Paulo
Funcionários da Funai (Fundação Nacional do Índio) em Rondônia pediram ao Ministério Público Federal ajuda para obrigar o próprio órgão indigenista a proteger uma área de floresta no noroeste de Mato Grosso onde vivem os dois últimos membros de uma etnia isolada --os piripkuras.
Os dois índios perambulam por propriedades do fazendeiro Celso Penço e de outros nos municípios de Rondolândia e Colniza, e sua sobrevivência é ameaçada pela ação de madeireiros, segundo os indigenistas.
A região era o principal foco de atuação do esquema de extração ilegal de madeira investigado em 2005 pela Operação Curupira, da Polícia Federal.
Penço foi um dos denunciados, por supostamente corromper funcionários do Ibama e da então Fema (Fundação Estadual do Meio Ambiente, hoje transformada em secretaria estadual) para conseguir planos de manejo falsos. No total, estima-se que ele tenha desmatado ilegalmente cerca de 108 mil hectares de floresta.
Os indigenistas que trabalham na frente de proteção da Funai em Ji-Paraná (RO) têm pedido ao órgão que baixe uma portaria de restrição de uso da área. Esse instrumento visa suspender as atividades de não-índios e é o primeiro passo legal para a realização dos estudos que podem levar à identificação e à demarcação da terra.
O coordenador-geral de índios isolados da Funai, Elias Biggio, disse que já fez o pedido para a diretoria de assuntos fundiários do órgão federal, mas que ainda não há uma resposta. "Temos todos os elementos para conseguir [a restrição de uso]", afirmou.
Segundo o indigenista Leonardo Lênin dos Santos, que coordena a equipe da Funai na área, os madeireiros que atuam no local estão consertando estradas e preparando a próxima safra. A madeireira Bioflora, de Ji-Paraná, pertencente a João Garcia (indiciado na Curupira), tem uma serraria dentro da área onde vivem os piripkuras e "está já abrindo picadas para extração de madeira a poucos quilômetros dos isolados".
Os piripkuras foram contatados pela primeira vez pela Funai em 1984, mas preferiram seguir isolados. Eram de 15 a 20 índios. O último contato foi em 2007, quando sobravam dois, Tikun e Mondeí. Uma terceira piripkura, Rita, por ser parente próxima dos dois, casou-se com um homem de outra tribo, os caripunas, e vive entre eles.
"Moleques"
Celso Penço, minimizou a presença indígena. "Não tem índios não, são só dois moleques lá", afirmou. "Um indigenista disse que tinha que preservar a espécie. Mas índio não cria. Como vão reproduzir se são dois machos?" Ele negou as acusações do Ministério Público em relação à Operação Curupira e disse que "sempre" ajudou as missões da Funai.
Santos diz que, enquanto os dois estiverem vivos, é obrigação do Estado protegê-los. "A gente não descarta que haja outros índios [na região]." Segundo ele, há muitos vestígios de presença indígena de períodos próximos. Só o trabalho de identificação poderá descartar a presença de mais piripkuras.
A antropóloga Inês Hargreaves, que trabalha no local, diz que a situação é idêntica à de três grupos isolados contatados em Rondônia em 1995: os canoês (quatro pessoas), os akun'tsuns (sete) e o chamado "índio do buraco", provavelmente o último de grupo ainda desconhecido. Hoje as terras dos canoês e dos akun'tsuns estão homologadas e a do "índio do buraco" tem uso restrito.
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